Humor Clássico e contemporâneo

14:44

Humor Clássico...

Quem conta “piadas” que ultrapassam o limite do bom gosto, não raro, diz ser adepto 
 do politicamente incorreto. Como se isso fosse Hype ou Cool e, portanto, justificasse 
 tudo. Censura é uma coisa abominável. Mas não pode ser confundida com a proibição 
de usar meios de massa que possuem concessão pública para a apologia à discriminação 
étnica, à homofobia, à xenofobia e a preconceitos e intolerâncias – que é o que certas 
piadas fazem.



Particularmente, considero deplorável quando humoristas fazem comentários ofensivos 
ou preconceituosos em veículos de comunicação de massa sob a justificativa de liberdade 
de expressão. Deplorável pelo conteúdo e por perceber que eles foram preguiçosos e não 
se dedicaram com inteligência à nobre tarefa de fazer rir


Há limites para o humor? O documentário ''O Riso dos Outros'', produzido para a TV 
Câmara, discute a partir de entrevistas com humoristas como Danilo Gentili e Rafinha 
Bastos, o cartunista Laerte, o escritor Antonio Prata e o deputado federal Jean Wyllys, o 
limite entre a comédia e a ofensa, a liberdade de expressão e o respeito à dignidade alheia.

    

Acho que o humor ''politicamente incorreto'', com raras exceções, nada mais é que o 
velho humor que sempre ridicularizou esses grupos que você aponta. Acontece que, 
com a organização desses grupos e a conquista gradual de direitos, é cada vez menos 
aceitável que se faça piadas desse tipo, ridicularizando um negro por ser negro, uma 
mulher por ser mulher, um homossexual por ser homossexual. É menos aceitável não 
porque o mundo está mais chato ou careta, mas porque esses grupos historicamente 
ridicularizados, ao se organizarem, conquistaram direitos e voz para reagir.

   

A partir do momento que esse humor passa a ser menos aceitável, existe uma reação 
daqueles que querem continuar fazendo essas velhas piadas. Essa reação, que se diz 
libertária na medida em que combate a ''ditadura do politicamente correto'', de fato 
está reagindo contra a perda de uma liberdade: a liberdade de um grupo historicamente 
dominante de oprimir, pela via do humor, os outros grupos sociais. A liberdade de alguns 
em limitar a liberdade e o direito dos outros. Uma liberdade que, no fim das contas, não 
passa de privilégio.

   

Assim, ao invés de dizer que o humor politicamente incorreto insiste em satirizar esses 
grupos que você aponta, o melhor seria dizer que o velho humor que insiste nessa sátira 
revestiu-se de uma nova roupagem e se autoproclamou, como reação, politicamente 
incorreto. Esse humor pode até criticar ricos e poderosos, mas raramente o objeto da 
crítica será o fato de serem ricos e poderosos. Eles serão ridicularizados por serem 
mulher-gay-gorda-velho etc. Criticar os ricos e poderosos por serem ricos e poderosos 
não faz parte da pauta dos '' politicamente incorretos'' porque no fim das contas, eles 
dividem os mesmos privilégios.

   

Este blog, quando trata de temas relaciona comportamentos arraigados na sociedade e 
o desrespeito aos direitos humanos, é alvo de uma turba de leitores que querem me 
queimar na cruz. Como foi a recepção ao seu vídeo? Há muita gente brava com você? 
Tem. Mas também tem muita gente que curtiu o filme. Muita gente que não concorda 
com várias posições que o filme toma, mas que reconhece a importância da discussão e 
enxerga que o filme levanta muitos argumentos pertinentes para o debate. Isso tem me 
deixado contente, essa multiplicidade de opiniões acerca da mesma obra.

   

Isso não quer dizer que o filme seja imparcial. O cerne é justamente demonstrar que a 
 imparcialidade não existe, que todo discurso, por mais leviano que seja, traduz os 
valores e a visão de mundo daquele que o profere. Assim sendo, como eu poderia 
pretender fazer um filme imparcial? No entanto, tomei o cuidado de expor no filme e 
na escrita todos os argumentos dos dois lados da discussão. Não tem necessidade de 
humilhar alguém ou expor, para se fazer um bom humor Toda a argumentação está iá, 
na sua integridade. Por isso tantas pessoas conseguem assistir e ter opiniões diferentes 
sobre os filmes.

   

O filme não pretende ser uma cartilha do que pode e o que não pode, o que está correto 
e o que não está. O filme apenas diz que por trás de um discurso de neutralidade existe 
um posicionamento. Que essa idéia de que você, por ser humorista, não tem 
responsabilidade com o que diz, é uma idéia ingênua que está a serviço de um 
determinado tipo de humor. E se você quer continuar fazendo esse tipo de humor, 
é bom que saiba de que lado está dessa discussão.

   

Agora, por mais que muita gente tenha ficado brava comigo, não acho que seja o caso 
de personalizar a discussão. Nem eu sou um cineasta demoníaco, nem os humoristas 
são vilões. Acho que o maior valor do ser humano reside na sua capacidade de debater 
e, a partir da discussão, se reinventar. O fato do filme estar contribuindo para esse 
debate, seja com reações favoráveis ou contrárias, pra mim tem sido uma grande alegria.

 

A mudança é a muda da árvore que cresce! É a dança do corpo do tempo! Às vezes
rápida, às vezes tão devagar que nem percebemos... Mas a mudança acontece todos
os dias a cada milímetro do cabelo que cresce. Às vezes ela grita, às vezes ela vem
muda e prega peças!






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